sábado, 3 de dezembro de 2022

Inclusividade


Comemora-se hoje o dia mundial das pessoas com deficiência, o qual foi assinalado por várias iniciativas no nosso país. Mas não é só neste dia que nos devemos preocupar com a inclusão de toda a gente na sociedade, a todos os níveis. À sua maneira, todos podem dar o seu contributo para a vida em comum. Aqueles e aquelas que, de nascença ou por acidente, se viram diminuídos da integridade do seu corpo ou de certas capacidades, acabam por desenvolver outras competências, para compensação. Por exemplo, quem é privado de visão, desenvolve outros sentidos que lhe sobraram, com base na concentração, muito para além das pessoas "normais". Pode parecer ingrato, para aqueles a quem nada falta, imaginar uma vida nessas condições. Contudo, qualquer realização, qualquer equiparação à normalidade conseguida pelos seus esforços, acaba por representar uma grande e saborosa vitória.

Tentando ver as coisas pelo lado oposto, pode entristecer ver aquelas pessoas a quem nada falta, não darem as devidas graças ao criador, não respeitarem o seu corpo e as maravilhas de que somos capazes por efeito da vontade e do trabalho árduo. Quanta preguiça, quanta falta de iniciativa, quanta quebra de utilidade social se pode ver por aí...A inclusão não deve ser uma palavra vã. O próprio desemprego e a ausência de perspectivas de trabalho digno, torna-se um verdadeiro desperdício para um país. Por isso o simples exemplo dos deficientes "ki pega tesu" acaba por tornar-se uma verdadeira lição de moral, da qual podemos tirar ilacções em termos políticos. 

É absolutamente necessário mudar as mentalidades, combater a inércia e falta de iniciativa individual, que se pode constatar de múltiplas formas, desde os jovens que vivem na expectativa de esquemas irrealizáveis ou dominados pelo "stress da Europa", por aqueles que colocam suas parcas economias em jogo ou apostas, em busca de miríficas probabilidades só passíveis de os deixarem ainda mais frustrados, até porque, mesmo nas ínfimas possibilidades de ganho, o dinheiro mal ganho não é aplicado em nada de produtivo, mas rapidamente delapidado. É preciso combater o abandono dos campos, que atira para Bissau os braços jovens, em busca de miragens que redundam em desgraça e num sentimento de exclusão, diminuindo as pessoas, deixando-as sem esperança e em pior estado que os verdadeiros deficientes, que aprenderam à sua custa que tudo assenta no seu próprio esforço. É preciso relançar o trabalho produtivo nas próprias escolas, o contacto com a natureza e a felicidade de ver crescer as sementes que lançamos à terra.

Florentino Mendes Pereira, cujo ambicioso programa, encarnado pela filosofia Turbada di Kambança, está apostado em lidar com as questões de fundo que afectam a Guiné-Bissau, de forma a estruturar um programa exequível com os nossos próprios recursos e competências. Somos um país potencialmente rico, podemos dar um grande salto se acreditarmos em nós próprios, em fazer as coisas pelas nossas próprias mãos, em caminhar pelos próprios pés, em pensar pela própria cabeça. Obrigado, irmãos deficientes, por nos mostrarem o caminho.

Regresso às raízes

Regresso às raízes, renovação  espiritual... Flora nasceu e foi criado na Praça de Bissau, mas os seus pais eram de Pecixe e Biombo. Há três...